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Rastreabilidade Total: A Transparência dos Pagamentos Digitais

Rastreabilidade Total: A Transparência dos Pagamentos Digitais

24/11/2025 - 02:51
Marcos Vinicius
Rastreabilidade Total: A Transparência dos Pagamentos Digitais

Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma verdadeira revolução na forma de pagar e receber valores.

A implementação de tecnologias como o Pix, o aumento do uso de carteiras digitais e a regulamentação cada vez mais rigorosa transformaram o país em um dos líderes mundiais em inovação financeira.

Transformação Digital e Regulamentação

A adoção de meios de pagamento digitais cresceu em ritmo acelerado, desencadeando a necessidade de novas regras para garantir segurança e confiabilidade.

Os reguladores estabeleceram princípios fundamentais para todas as instituições financeiras, visando não apenas oferecer praticidade ao usuário, mas também assegurar rastreabilidade completa das transações.

Entre os mandamentos de conformidade digital, destacam-se:

  • rastreabilidade completa das transações: cada Pix, TED ou pagamento deve ter um rastro digital claro e ininterrupto;
  • identificação robusta de usuários em tempo real: processos que vão além do KYC básico, com checagens dinâmicas e análise comportamental;
  • monitoramento de movimentações suspeitas em tempo real: uso de inteligência artificial para detectar padrões anômalos e prevenir fraudes;
  • integração eficiente de dados com órgãos reguladores: automação na geração de relatórios para a Receita Federal.

Essas diretrizes não apenas reforçam a segurança, mas também atendem aos compromissos internacionais do Brasil em combater a lavagem de dinheiro e a evasão fiscal.

Desde janeiro de 2025, todas as instituições financeiras — incluindo bancos virtuais e varejistas de grande porte — passaram a reportar semestralmente, por meio da e-Financeira, as transações de clientes que ultrapassam determinados limites.

O processo de adaptação envolve a revisão de fluxos internos, treinamento de equipes de compliance e a adoção de soluções tecnológicas específicas. Para as fintechs emergentes, isso significa investir em sistemas que ofereçam monitoramento de movimentações suspeitas em tempo real com alertas e análise de risco customizada. Já as grandes instituições buscam otimizar seus custos ao integrar seus bancos de dados às plataformas governamentais, garantindo integração eficiente de dados com órgãos reguladores sem gerar trabalho manual excessivo.

Crescimento Exponencial dos Pagamentos Digitais

O Brasil figura entre os países de maior adoção de pagamentos eletrônicos do mundo.

Em 2024, 82% das transações bancárias foram realizadas de forma digital, um salto considerável em relação às modalidades tradicionais.

O Pix consolidou-se como o principal meio de pagamento, com 25 bilhões de operações no ano, representando crescimento de 41% em relação a 2023.

Apesar de o Pix registrar um volume expressivo, os cartões de crédito, débito e pré-pago mantiveram posição de destaque, somando 41% de participação no total de pagamentos em 2023.

Outra tendência marcante é o uso do celular como canal preferencial: três em cada quatro transações são realizadas por smartphones, seja por aplicativo ou por aproximação.

Esse movimento revela não apenas a comodidade, mas também a confiança dos consumidores nas interfaces móveis.

Além dos números expressivos, é fundamental observar a inclusão financeira gerada por esses novos meios. Milhões de brasileiros sem acesso a agências agora realizam transações pelo celular, ampliando seu poder de consumo e participação no mercado formal.

O aumento da concorrência entre bancos tradicionais, fintechs e big techs também impulsiona a oferta de serviços gratuitos ou de baixo custo, democratizando o uso das ferramentas financeiras digitais.

Pagamentos por Aproximação e Seus Números

As transações por aproximação (contactless) ganham força a cada dia, simplificando a experiência do usuário.

Dados recentes mostram um aumento significativo nesse tipo de operação entre 2022 e 2023, tanto no crédito quanto no débito.

O crescimento expressivo evidencia a preferência por pagamentos ágeis, seguros e sem contato físico, impulsionados pela pandemia e pela evolução tecnológica.

Desafios de Transparência na Experiência do Consumidor

Mesmo com todos os avanços, muitos consumidores enfrentam dificuldades para reconhecer compras em seus extratos digitais.

Segundo pesquisa da Mastercard, 35% dos brasileiros relatam não identificar corretamente o nome do comerciante, seja por nomenclatura técnica ou pelo uso do nome do processador de pagamentos.

Essa falta de clareza gera sentimentos de insegurança e leva a litígios desnecessários:

  • 39% dos usuários sentem-se incomodados;
  • 35% relatam ansiedade ao revisar o extrato;
  • 21% afirmam sentir-se desamparados.

Consequentemente, 78% dos casos resultam em solicitações de estorno, muitas vezes sem fundamento real.

Os processos de reclamação consomem, em média, duas semanas de análise e geram custos operacionais elevados para emissores e adquirentes.

Casos de consumidores que contestaram cobranças desconhecidas e descobriram transações realizadas por familiares são recorrentes. Essa situação evidencia a necessidade de soluções que equilibrem simplicidade e profundidade de informação.

Para os usuários, fica a recomendação de habilitar notificações instantâneas em aplicativos bancários, facilitando o acompanhamento em tempo real e reduzindo a probabilidade de surpresas no extrato.

Soluções e Inovações Tecnológicas

Para enfrentar esse cenário, as empresas de tecnologia financeira estão investindo em recursos que enriqueçam o histórico de transações.

Entre as principais demandas dos consumidores estão:

  • Nome do comerciante exibido de forma clara (70%);
  • Logotipo ou ícone que identifique a marca (37%);
  • Local da compra registrado no extrato (42%).

Ferramentas como o Consumer Clarity, desenvolvidas pela Mastercard, prometem reduzir significativamente os erros de identificação e melhorar a percepção de controle pelos usuários.

Além das melhorias visuais, as instituições estão investindo em chatbots inteligentes que esclarecem dúvidas sobre lançamentos e orientam o usuário em casos de cobrança indevida.

Para as empresas, a adoção de APIs abertas (Open Banking) permite oferecer aos clientes a consolidação de múltiplas contas e cartões em um único painel, promovendo historico de transações enriquecido e confiável e uma visão completa das finanças pessoais.

Profissionais de TI e de conformidade devem ficar atentos a certificações como ISO 27001 e PCI DSS, que atestam boas práticas de segurança da informação e proteção de dados.

Segurança e Rastreabilidade do Pix

O Pix é reconhecido como sistema mais seguro disponível no Brasil, amparado por leis como o Sigilo Bancário e a LGPD.

Todas as operações registram os dados do pagador e do recebedor (CPF/CNPJ), garantindo capacidade de rastrear 200 milhões de transações diariamente.

Em caso de investigações, as autoridades podem acessar rapidamente os registros, respeitando prazos e protocolos de sigilo.

O emprego de criptografia de ponta a ponta e a exigência de autenticação multifator em transações de alto valor elevam o patamar de segurança. Essas medidas, aliadas à legislação vigente, criam um ambiente em que fraudes são rapidamente detectadas e revertidas.

Em paralelo, a educação financeira dos usuários se torna peça-chave: programas de conscientização sobre golpes comuns, como phishing e deepfake, auxiliam no fortalecimento da corrente de segurança.

Canal Presencial Ainda Importante

Apesar da digitalização, o atendimento presencial mantém relevância, especialmente para operações de maior valor ou orientação personalizada.

Em 2023, os caixas eletrônicos, agências físicas e correspondentes contribuíram com 42% do volume financeiro total, ressaltando que a convergência entre o online e o offline é fundamental.

Futuro da Transparência Financeira

O horizonte aponta para uma integração ainda maior entre sistemas, com APIs abertas facilitando intercâmbio de informações e serviços inovadores.

A perspectiva é que o usuário tenha acesso a um histórico de transações enriquecido e confiável, tornando o gerenciamento financeiro mais intuitivo e seguro.

Os próximos passos incluem a consolidação do Open Finance, permitindo que consumidores compartilhem dados com terceiros de maneira transparente e segura. Essa abertura estimulará o surgimento de produtos financeiros personalizados e de nicho.

Além disso, projeções indicam o crescimento de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs), que podem acelerar ainda mais o ritmo de inovação e exigir novos padrões de rastreabilidade.

Convidamos gestores, desenvolvedores e usuários a colaborarem na construção desse ecossistema seguro e transparente. Cada ação, desde a implementação de boas práticas até a leitura atenta do extrato, contribui para um sistema financeiro mais resiliente.

Referências

Marcos Vinicius

Sobre o Autor: Marcos Vinicius

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